sábado, 23 de abril de 2011

Jongo, Baile Funk e Tráfico

Uma das formas que os escravos utilizavam para passar informacões importantes era cantando pontos dentro do Jongo. Os textos das letras do Jongo, em sua estrutura enigmática,  metafórica e improvisada, permitiam que os escravos falassem sobre assuntos dos quais não conseguiriam tratar diretamente entre si, como por exemplo detalhes de fuga ou organizacão de rebeliões. Não sei como esse sistema evoluiu dos "bailes" do jongo aos "bailes" funks cariocas e se nesse meio tempo surgiu alguma manifestacão que também usasse letras de música para passar informacões importantes, mas acontece que nos primórdios dos bailes nas favelas cariocas, também o tráfico se utilizou do encontro festivo para avisar da chegada de armas, drogas e outros "despachos" corriqueiros típicos desse tipo de negócio. Temos exemplo disso em várias cancões que foram registradas e são tocadas até hoje. Recentemente estive no baile da Mangueira e pude confirmar que não só a troca de informacões continua a mesma, clandestina, bela e sorrateira, como também as favelas são as senzalas do século 21, instituídas, institucionalizadas e feias. Não estou dizendo aqui nada de novo. Dos grandes sociólogos até aos filósofos de botequim, todos já fizeram essa analogia. Mas é chocante confirmar isso in loco. Assim como é estranho fazer uma viagem no tempo sem sair do lugar. E a danca da miséria continua, mudaram apenas os bailarinos.

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