terça-feira, 10 de maio de 2011

O retorno ao paraíso

            Ao longo dos séculos XIX e XX muitos sistemas sócio-econômicos viram suas teses e utopias virarem pó diante daquele que veio a se firmar e melhor traduzir o processo de organização da sociedade à época. O capitalismo, em sua origem, parecia ser o modelo ideal para a humanidade, uma vez que permitia aos indivíduos, através de seus próprios esforços, gerarem riqueza para si e, por conseqüência, para os outros. No entanto, algo se perdeu no meio do caminho que nos trouxe a novos tempos e a um novo século. Tinha uma pedra no meio do caminho. Instransponível, ela delimita as duas faces da marca humana: de um lado, a solidariedade sonhada por uma ideologia onde todos poderiam e deveriam buscar sua felicidade e satisfazer seus desejos, e de outro, há anos luz de distância desse ponto, a ganância desmedida dos homens.
Existe um sentimento geral, compartilhado por um número cada vez maior de pessoas de diversas tribos, de que o planeta já não suporta o modelo atual de utilização dos seus recursos. Ao mesmo tempo em que essa sensação de que algo muito importante está sendo irreversivelmente destruído e que se faz necessária a preservação do meio ambiente, os grandes negociantes do planeta seguem impávidos. Colossos de pés de barro. Não por acaso, uma locução de origem bíblica que se aplica a pessoas cujo poder ou prestígio assentam em base frágil. Pois estes senhores continuam apoiando seus negócios na produção frenética de bens de consumo, promovendo uma enorme exclusão social, e na utilização predatória dos já escassos recursos da Terra, sem manter qualquer ética ou responsabilidade pela natureza. Na mesma direção segue também a classe política dominante mundial que, com muito menos dinheiro do que agora investiu para salvar bancos, poderia iniciar grandes mudanças a nível ambiental. Todos sabem que no futuro terão de gastar um dinheiro inexistente, e virtual, quando têm nas mãos, agora, a possibilidade de estabelecer metas e comprometimentos reais para com o planeta.   
E a Terra é tão sábia que promove suas crises de forma interligada, conectada. Mas todos os esforços para a resolução desses problemas parecem se dirigir à salvação de alguns pobres homens ricos em detrimento de toda a espécie humana. Entretanto, já não há mais tempo para criticar. É tempo de buscar soluções. A incapacidade atual do planeta de se auto-sustentar é consenso até para esses pobres homens ricos.

Adão e Eva eram os jardineiros do Éden. Somos seus filhos, viemos para cultivar valores, em todos os sentidos. Somos seus herdeiros, também estamos nós em eterna e constante expulsão do paraíso por ignorância. Também em nós o impulso ao mal, o Ietser Hará, como chamam os cabalistas, nos acompanha desde o berço. Diz Augusto Boal, é tempo de humanizar a humanidade.  É chegado o momento, poderiam dizer os místicos, de uma movimentação de retorno ao Jardim Sagrado. Mas para isso as árvores, ou pelo menos, aquela mais importante, a do Bem e do Mal, deveriam estar vivas, respirando.


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